Um atributo aparentemente comum a todos os grandes pensadores é a capacidade de concentração. Em Sócrates, ela era quase sobre-humana, a julgar pelos relatos deixados no “Banquete”. Em plena guerra, em algum intervalo da batalha de Potidéia, conta-se que o filósofo foi capaz de passar um dia inteiro em meditação, “recolhendo-se em suas intuições” (συνεννοήσας).
Conhecido só por seu nome “artístico”— Helel —, o homem defendia o valor do consumo. Segundo ele, tudo que nos venderam como importante: trabalho duro, disciplina, responsabilidade — o “pacote estoico”, como ele chamava…
E não foi justamente assim a vida do professor Olavo de Carvalho? Um homem “comum”, pobre e sem estudos formais, que passou pelas maiores dificuldades e reviravoltas na vida, tornou-se, de forma surpreendente, um assombroso instrumento de salvação e reerguimento para uma multidão de pessoas.
Tia Creuza era uma católica-espírita muito curiosa. Sentada em sua cadeira de jardim, que fazia as vezes de poltrona na sala, devido à sua condição financeira, observava a estante cheia: santos, terços, um Buda, um Ganesha, Nossa Senhora das Graças… Além da Bíblia, aberta na metade de um capítulo que ela nunca pensaria em ler.
A silhueta do prof. Olavo projetava-se, em contraluz, sobre um dos vitrais dianteiros da igreja. Para espanto do meu imaginário ainda infantil, entretanto, não via ali nenhum super-herói filosófico.
Essa foi uma anotação encontrada na cópia de Adolf Hitler do livro de Schertel, Magia: História, Teoria, Prática. Parece que Hitler não tinha problemas com “sementes demoníacas”. E ele queria “dar à luz um novo mundo” — assim como Karl Marx e Vladimir Lenin.
Qual a importância da sabedoria num romance? É possível que um tolo completo seja um grande romancista? Tolstói agiu como um tolo a vida inteira; e na verdade se torcerem meu braço não sou capaz de dizer um grande romancista que agisse como um sábio.
Sócrates, que era um grande professor, não oferecia diplomas, e o estudante moderno que sentasse aos seus pés durante três meses exigiria um certificado, algo tangível e externo que pudesse exibir como uma vantagem do seu estudo ― aliás, esse seria um excelente tema para um diálogo socrático.
Se há virtudes específicas de determinadas condições sociais, virtudes de estado, se assim se pode dizer (Santo Tomás não nos fala numa “prudência régia”?), há os defeitos de estado. Na nossa profissão de escritor, é a vaida-de. Ninguém escreveria, ninguém publicaria, se não fosse o estímulo deste sentimento…
Jesus Cristo, para alguns, não passa de um mito entre outros mitos; para outros, não menos irrefletidamente, qualquer coisa que termine em “ista” se lhe ajusta bem — idealista, moralista, socialista, o diabo. São poucos hoje os que o julgam por quem ele realmente é, o que transcende, naturalmente, a sua biografia terrestre, encapsulada, de resto, nos relatos bíblicos registrados por aqueles que o reconheceram como o Salvador dos homens, o Christos anunciado de antemão a todos os povos dispersos sobre a superfície da terra.
Se uma das principais funções do mito é criar solidariedade comunitária pela percepção compartilhada de uma narrativa humana em comum, então parece justo dizer que os grandes mitos culturais do Ocidente tornaram-se, em sua maioria, inúteis.
Por mais que previsse, espantou-se ao ver que tudo era mesmo diferente. Os amigos haviam lhe cantado as maravilhas, mas em tempo algum ele terá se preparado para aquilo.
Ao cruzar a ponte telescópica, e sentir a violência do ar-condicionado, começou a tremer, não sabia se de medo ou frio. Penetrando o corredor que conduzia ao desembarque, o andar apressado, ao ritmo dos outros passageiros…
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