E é inegável que as redes sociais atrapalham nossa vida de escritores. No plano pessoal, são um fator de dispersão, seja por nosso desejo de consumir conteúdo — e isso rouba nosso tempo —, seja porque propicia que amigos e familiares tenham acesso a nós a qualquer instante — e isso rouba nossa concentração.
Vai longe a época em que escritores tinham alguma presença na sociedade brasileira. Até a década de 1970, eles ocupavam — como cronistas, ensaístas, poetas, contista e críticos literários — as páginas de revistas e jornais. Seus livros eram discutidos nos suplementos literário, em um efervescente debate cultural de que temos registro por coletâneas de textos do período. Muitos dos escritores participavam até das discussões políticas e sociais.
Machado foi leitor assíduo de Schopenhauer, e este, por sua vez, foi grande admirador de Leopardi. Voltarei a esse ponto. Em todo caso, o autor do delírio de Brás Cubas reconhecido teria em Leopardi mais que um poeta melancólico e sim um pensador poético ao qual o ligavam profundas afinidades. O delírio de Brás Cubas é da mesma lucidez das Operette morali que são o documento principal da filosofia leopardiana.
Quem diria: A hora da estrela é um brevíssimo tratado de metafísica da esperança em forma de novela – e o renascimento do narrador (uma verdadeira catarse pela autocompreensão obtida com Macabéa) é a lição final de Clarice Lispector sobre a função da literatura.
José Geraldo não é para qualquer um – de hoje! Basta ler essa coletânea de seus textos para ver o imenso desnível de sensibilidade artística que separa sua geração da nossa.
Comentários