Ode ao passado da cidade

13, mar, 2023 | Artigos | 0 Comentários

Por Diogo Fontana

 

A pequena concentração de lojas

as miúdas moradias

ao lado do rio, nos pontos mais altos,

das enchentes erguidas

ao abrigo, tanto das sazonais

quanto das repentinas.

 

Havia lá por certo as igrejas,

duas, e os cemitérios,

dois, o católico, o luterano.

Havia a umidade

mortífera e o calor hediondo;

e havia a vastidão.

 

Vejo o olhar abatido e distante

de uma pessoa inerte

cuja fisionomia tão austera

vegeta num terraço.

Vejo uma insanável monotonia,

e alemães trabalhando.

 

Entretanto, viçava a natureza,

oposta e colorida,

numa eclosão gloriosa e triunfal.

Mas sem nenhum poeta,

ninguém para cantar essa beleza:

olhos rudes, braçais.

 

Timbó: o vale vaporoso e fértil,

as colinas, as matas,

a profusão de palmito e bananais,

as casinhas enxaimel,

os alpendres, as roças de mandioca.

 

No fluxo barrento do rio Benedito,

na artéria de lama,

mana uma melancolia marrom.

Ó remota solidão!

Ó abatimento sombrio, ó não-vida!

Cadeira de balanço.

 

 

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Detalhes do autor

Diogo Fontana

Nasceu em Curitiba em 1980. É autor dos livros “A Exemplar Família de Itamar Halbmann” e “Se Houvesse um Homem Justo na Cidade”.

Já contribuiu com artigos para o jornal Gazeta do Povo e para os sites Mídia Sem Máscara, Senso Incomum, Estudos Nacionais e Brasil sem Medo.

Mora em  Santa Catarina, com a esposa Gabriela e o filho Constantino.