A Beleza Divina: uma lição de São Basílio Magno
Por Ademir Amaral
Para que não se ceguem, os olhos, antes de contemplar a luz do Sol, devem se acostumar à luz diminuída que ele projeta sobre a superfície da água. Eis a imagem que São Basílio usa em uma de suas cartas ao tratar da utilidade da literatura pagã na preparação dos jovens: por meio da beleza literária, contempla-se a Beleza Divina. Isto pode certamente ser estendido a todas as modalidades de arte.
Essa Beleza, atributo que em Deus nos parece quase secreto, deixa os seus reflexos neste mundo de uma maneira bastante patente – tão patente que podemos mesmo esquecer a fonte da qual ela emana: confesso que, por muito tempo, a religião me interessou sobretudo como experiência estética, e talvez devesse, penitente, dizer que ainda hoje é assim.
Lembro-me de como a festa de Corpus Christi me encantava com seus brocados, suas tochas avançando a noite, a cruz dourada abrindo caminho na procissão, o incenso subindo por entre as frinchas ornamentadas do turíbulo. Até os padres menos tradicionalistas aceitavam que neste dia a cerimônia se revestisse de alguma pompa evocativa de tempos menos minimalistas.
Mas era fausto de um dia aquele das solenidades mais importantes do calendário litúrgico, o que destoava dos hábitos da vida paroquial, da hediondez da estrutura arquitetônica da nossa cidade e das nossas igrejas; passada a festa, eu retornava à pobreza material da minha vida, às conversas mesquinhas do dia-a-dia, à imersão no meio físico urbano carente de ordem, simetria, proporcionalidade e tradição.
A Beleza Divina: uma lição de São Basílio Magno
Quem quisesse escapar dessa penúria estética poderia recorrer à música, especialmente porque ela, ao contrário da literatura, não exige nenhuma educação especial para desencadear os efeitos previstos pelo artista.
Porém, justamente por nos impactar fisicamente sem o nosso consentimento, é a música de má qualidade a forma de arte que mais pode destruir a personalidade daquele que tenha alguma aspiração espiritual-intelectual, ou simplesmente estética – e quem duvida que a música predominante no ambiente brasileiro, mesmo nas igrejas, seja a da pior qualidade?
Depois da leitura de Música, Inteligência e Personalidade, do dr. Minh Dung Nghiem, publicado neste ano pela Vide Editorial em tradução de Felipe Lesage, é impossível não associar o nosso baixo desempenho acadêmico, a nossa religiosidade sentimentalista, nossos altos índices de criminalidade e nossas inúmeras mães adolescentes e solteiras à qualidade da música que se escuta no país.
A divisão feita pelo dr. Minh Dung Nghiem entre hemisfério cerebral esquerdo (racional) e direito (emotivo) pode ser simplista demais, mas isso não nos impede de comprovar a veracidade da associação que autor faz entre a audição frequente de batuque afro e o comportamento desordenado cada vez mais comum na Europa e no nosso continente. Não se deve esperar que de uma música criada para o transe e para a orgia brote o amor pelo estudo, a meditação, o respeito pelo próximo, o autocontrole corporal e a sensibilidade para a Beleza Divina.
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Nome do autor
Nascido em Pedra Preta, MT, em 1995, Ademir Amaral vive em Rondonópolis, MT, onde graduou-se em Ciências Biológicas. É aluno do Curso Online de Filosofia, do professor Olavo de Carvalho, e trabalha com revisão, tradução e ensino de idiomas.