Dono de Casa (conto)
Por Samuel Freitas
Quem já empunhou uma enxada sabe que há mais poder curativo no capinar de um pedregoso roçado do que em qualquer confortável divã à meia luz. Encalecer as mãos traz suavidade à alma.
Experimenta varrer uma calçada em silêncio no alvorecer, como os sábios de outrora, e verás. Contudo, cada um tem sua enxada particular, ou doutor de preferência. Eu escolhi lavar a louça, ao invés de me atentar ao ensinamento dos coaches, por exemplo. Limpar pratos é excelente terapia. Além de ser, é claro, uma atividade que ratifica o acordo matrimonial contemporâneo e sua lei previamente estabelecida em Artigo Único: “O cônjuge sob incumbência da preparação de quaisquer refeições estará isento da responsabilidade da limpeza dos utensílios, peças e instrumentos utilizados para esse fim. O encargo da higienização recairá ao consorte não atuante no procedimento. Salvo acordo prévio entre as partes”.
Com base nele, assumi estoicamente a função de não cozer um ovo sequer. E se, porventura, for inevitável fazê-lo, mesmo assim devo arcar com o compromisso preestabelecido por mim mesmo: a lavagem de todo material requerido no processo.
— Mas precisa sujar tanto? — Queixei-me à minha esposa, quando estacionei na cozinha com nosso filho no carrinho de bebê.
— Estou sujando o de sempre, oras! — Clarinha respondeu, dando de ombros, consciente do excesso.
— Claro, não é você quem limpa.
— Lógico, não é você quem cozinha.
— Por que não usa a mesma panela em que fez o macarrão pra preparar o molho? E pra que tanta colher suja pra fazer um bendito molho?
— Não era você quem gostava de lavar a louça? Tá reclamando de quê?
—Tô reclamando da bagunça toda. Só não suja mais porque não tem mais o que sujar. Olha só essa pia, Clarinha. Não cabe nem mais uma faca suja!
— Não me estresse, Fabinho! Vou acabar é queimando o almoço por sua culpa.
Aperfeiçoar o modus operandi do trabalho doméstico não é pedir demais. Pelo menos, assim o creio. E é precisamente em ocasiões como esta que compreendo aqueles que veem a inutilidade de se lavar um talher que será utilizado novamente em breve; e acabam deixando-o por ali, encostado, em stand-by, descansando na beirada da pia.
Mas Clara via nessa minha pequeníssima admoestação uma injusta reprimenda ou uma egoísta tentativa de amenizar a minha tarefa futura. Duplamente errada estava. Ver pia, fogão e cozinha naquele caos me causava um desconforto terrível.
Ela entenderia melhor o meu lado se reparasse bem em algumas de minhas manias. Não sei bem se lhe passou despercebido ou se ela dissimulara a própria percepção diante dos meus singelos transtornos obsessivos. Transtornos, sim, embora nenhum médico me subscreva diagnóstico psiquiátrico, pois a nenhum consultei. Atesto sofrer de simples excentricidades, e assim e me dou por satisfeito. São trivialidades da vida de qualquer um que preze o mínimo de arrumação: alinhar as roupas por cores, as frias à esquerda, neutras ao centro, quentes à direita; manter os objetos equidistantes e dispostos em ordem decrescente da parte central para as bordas do móvel em que estejam repousados; acomodar os animais de brinquedo na estante do quarto de meu filho em arranjo evolutivo das espécies, dos anfíbios aos mamíferos… Enfim, somente sou organizado.
Mas aqui estou agora vendo todo esse escombro de Babel na pia implorando interferência divina. A única forma sensata para aliviar minha coceira cerebral é volver as costas ao lavatório antes que enlouqueça. Fiz a cadeira dar meia volta.
— Clarinha, e o seu plantão?
— Daqui a uma hora. Já deixei as coisas do menino separadas pra você.
— E ele já mamou?
— Ainda não. Dê a mamadeira assim que terminar de lavar os pratos, que já tá quase na hora dele tirar um cochilinho. Eu espero você acabar antes de ir para o hospital.
Nicolas, assim o batizamos, nosso pequenino primogênito. Um belo e melodioso nome. Clarinha quem escolheu. Sempre quis pôr um nome com força sonora retumbante, talvez um Ajax ou Adônis, quiçá um Apolo. Porém a potência dos nomes ficou aquém da robustez dissuasiva da negação veemente da mãe. Diante das opções de deuses, heróis e personagens mitológicos, acabei por acatar a única sugestão feita por ela. Pelo menos do nome restou a sua origem grega. Fiquei consolado.
Nosso pequenino contava quase dois meses, precisamente cinquenta e dois dias, de bênçãos em nossas vidas. Éramos marinheiros inexperientes num cruzeiro cobiçado por ambos, com recursos bem modestos, mas, com felicidade transbordante. Ela, enfermeira, e eu, professor particular. Tínhamos que adaptar nossos horários para que nos fosse possível o revezamento nos cuidados do garotinho durante essa belíssima primeira viagem.
Quando já estava por adiantado o meu serviço doméstico obrigatório, só restando os talheres para concluir, ouvi:
— Tô pronta. Vai demorar muito ainda?
Clarinha, com o bebê no colo, apressava-me sua saída.
— Estou terminando de limpar a pia.
A herança de ensinamento materno é um imperativo categórico automatizado. Ai de mim se não concluir a higienização da pia após a lavagem da louça. Seria outra comichão cerebral não o fazer. Fui devidamente educado que o abandono da pia suja e encardida após lavar os pratos era o mesmo que atestar o completo descompromisso para o trabalho bem-feito, devidamente realizado. Testamento de incompletude de atos. Atitude relapsa certificada.
Cada detalhe na assepsia teria que ser realizado com afinco, tudo apropriadamente lustroso e limpo. Não restar uma gota orvalhada no inox, nem uma mancha no granito. Concluído. Findaram-se, concomitantemente, a tarefa e minha terapia vespertina. Principiaria, agora, o expediente paterno de zelar pelo meu filho.
Assumi o posto, já municiado da mamadeira e engatilhado com a playlist musical para o acalento do pequerrucho. Despedi-me de Clarinha e lhe desejei um bom serviço, sem contratempos e fatalidades, e um retorno em paz ao lar onde a aguardaríamos saudosos, seu amado filho e esposo querido.
— Chegarei amanhã de manhã, se cuidem! Amo vocês.
Eram palavras de despedida tão lindas. Continham uma promessa, um pedido cauteloso e uma declaração amorosa, tudo que precisávamos para suportar a ausência dela. Nicolas me olhava enquanto sorvia sua refeição pré-soninho, com o olhar inquieto dos que se maravilham com curiosas descobertas e a inocência do fascínio diante do inesperado e inimaginável. Qualidades que vamos perdendo com o passar dos anos, e tentando reconquistar com o fim dos dias.
Olhos vivos e atentos, duas pequenas lagoas de castanho amendoado com orlas esverdeadas; belos olhos puxados da mãe; já o olhar era o mesmo do pai. Na TV, a tocar, estava uma seleção de músicas aleatórias ao piano, das eruditas mais conhecidas às modestas e impopulares. Tomei-o nos braços para embalar seu sono, ritmando as idas e vindas num embalo compassado. Cheguei a considerar que a cadência de uma valsa fora composta enquanto alguém ninava um rebento seu, e a leveza no valsar surgira do relaxamento no tronco quando não enfim se constata o sono da cria.
Era esse instante com meu filhinho destinado às abstrações reconfortantes. Deixei-me ser acalentado pelo som do piano, enquanto ninava Nicolas nos meus braços. Momento exclusivamente nosso. Assim fui indo, nas asas da sinfonia. Senti-me transportado à lembrança de um sonho que tivera, não há muito tempo. E me encontrei, de repente, ao pé da ladeira que levava à casa do meu – hoje, falecido – inesquecível avô.
Apertei o passo o máximo que pude, tentei correr com toda minha força até lá. Mas não saía do lugar. A gravidade nos sonhos age numa física estranha e diferente. Persisti no avanço como se travasse luta contra um tufão, enfrentando a correnteza dos ventos. Consegui progredir. Chegando à soleira, com a porta aberta em boas-vindas, aprumei a vista para o interior e lá encontrei meu vovô, meu primeiro mestre e exclusivo mentor.
— Vovô? — Interroguei o espectro.
Tinha consciência de que era tudo um sonho e que poderia se transformar num terrível pesadelo a qualquer momento. Todavia, lá estava ele, o velho Seu Gabriel, cachimbo ladeado no beiço, quase caindo, e sentado na gasta cadeira de balanço com juncos cor de argila, num embalo norte-sul, como um antigo peregrino que atravessa um deserto qualquer montado em seu camelo.
Abracei seus joelhos, senti o calor das lágrimas da saudade inundando minha face. Há uma década vovô tinha nos deixado.
— Queria tanto o senhor aqui, vovô — Comecei meu desabafo, ainda agarrado aos seus joelhos — Tudo que o senhor me ensinou, absolutamente tudo, fez-se útil para mim. Mas me faltou recompensá-lo, em vida, a merecida gratidão pelo homem que me formei graças ao senhor. E, a cada dia, meu querido vô, é uma habitual tentativa feliz de ser digno de sua memória, de sua descendência, de sua honra. Converti-me esposo, um bom marido; o mais companheiro que meu esforço constante permite, mesmo assim, ainda menos que minha esposa realmente merece. Hoje sou pai também, um pouco menos paterno do que gostaria e um tanto mais do que esperaria sinceramente sê-lo; mas, um pai merecedor da distinção desse nome, assim o creio. Sentiria orgulho de mim, eu sei. A maçã não cai longe da árvore, e essa aqui rendeu belos frutos. Vovô, eu sinto tanto a sua falta! Da paz na sua voz grave, do abraço quase uterino, desse sorriso amarelado e brilhante que igual nunca vi, dos seus cabelos grisalhos e finos e de sua maneira doce de transmitir muitas verdades.
Senti sua mão esquerda tocar o meu ombro, e com a outra em concha recolher para si meu rosto. Tomou-se forma física a completa quietude em mim. E falou pausadamente olhando para dentro de minha alma:
— Alegre-se, rapazinho. Com você está tudo aquilo que na vida se precisa.
Não recordo bem se o sonho acabara por ali, mas da frase não esqueci. Poderia vê-la escrita em qualquer lugar ou dita por outra pessoa em qualquer outra situação, porém seria sempre reproduzida à voz de meu querido avô, no recanto mais acolhedor do meu coração.
Pois então, ali, na sala, ao término de uma composição de Ludovico Einaudi, quando, enfim, acordado me descobri, abri os olhos e fitei demoradamente meu lindo e querido filho, adormecido como os justos, na esplendorosa forma dos anjos. Desabrochou nele um miúdo sorriso no cantinho dos lábios. O primeiro sorriso do Nicolas que presenciei. Não cabia em mim de tanta alegria e felicidade. Coloquei o pequeno no berço junto com o sorriso que ainda nele persistia, e com olhos marejados sussurrei suavemente enquanto lhe acariciava o rostinho:
— Papai realmente tem tudo o que precisa na vida aqui com vocês, meu filho.
Detalhes do autor
Samuel Freitas
Nasceu em Tupanatinga (PE) no ano de 1985; atua como Bombeiro Militar nas Alagoas. Autodidata. Bacharelando em Direito na UPE, Campus Arcoverde, onde atualmente reside com esposa e filho.
Amei a história!
Parabéns Samuel pelo excelente trabalho! Fiquei encantada
Muito bom! Obrigada 🙂
Algumas pessoas pensam que escrever é fácil. Mas sei como é difícil ter ideias e transformá-las em conteúdo significativo e interessante. 🫶
Estilo ao mesmo tempo conciso e sublime. Ressalta aquilo que deve ser ressaltado, tocando o leitor mediante os afetos figurados na narrativa. Realmente, é algo marcante, que faz o leitor lamentar por durar tão pouco, mas, logo em seguida, aplaudir por ser tão profundo.
Muito bom, a inversão de papéis e ao mesmo tempo a responsabilidade divida em um lar. Vocabulário misto más de ótima compreensão, parabéns.
Texto maravilhoso. Parabéns meu amigo. Fala forte aos nossos corações. Deus continue te abençoando.
Parabéns meu irmão!!!
Estimado Samuel, agradeço o gesto de ter compartilhado comigo esse conto caleidoscópico de cenas – da pia ao encontro com o avô – e afetos – do ser pai, esposo, neto. Gostei muito. Desperta tanto o cômico que nos faz rir com algumas cenas narradas na tarefa com as louças rs quanto o sentimento de conexão profunda com a saudade do avô. Parabéns e sucesso.
Que lindo! 🥺
O coração ficou quentinho ♥️
Excelente escritor!
De uma leitura instigante que me faz ter certeza que o livro lerei apressadamente. Parabéns!
Parabéns Samuel, belo conto, história bacana que prende o leitor até o fim, aguardando os próximos, sucesso meu amigo.
Freitas meu amigo… a obra por seu criador.
Muito bom passear no tempo e espaço através da leitura. Assim o faz envolvente e com grandeza.
Está no caminho certo.
Só posso desejar sucesso e que Deus ilumine com mais contos.
Uma verdadeira Obra!
Quando você acha que os escritos de Samuel não vão te surpreender mais, simplesmente te deixam atônitos de tanta criatividade. Ansiosa pelo livro.
Excelente fração do livro. Meu amigo… Ansioso para ver a obra por completo… 👏👏👏 Sucesso.
parabéns, história muito boa, prendeu minha atenção. E eu q adoro ler, e n é toda história q m chama atenção. ja to ansiosa pelo livro, p ler nas viagens p relaxar…. parabéns
Que texto rico! Me senti lendo uma obra de Machado de Assis. Ansiosa pelo próximo capítulo 😍
Perfeito meu irmão! Essa leitura me fez fazer uma viagem.
Parabéns primo!! Viajei em seu conto, nele pausava para apreciar seu show de malabarismo vocabular, o que sempre lhe foi muito peculiar. Vc é o cara!! 😘🌷
Que Maravilha de livro!! Parabéns, Samuel! Já quero compra e o meu!
belezinha de conto, cheio de palavras ricas de um vocabulário exótico, singular e extravagante, capaz de nos fazer viajar e vivenciar cada detalhe descritos, como se realmente fossemos os personagens, vi tbm uma semelhança com sua vida em particular com Aquiles e gih, em fim amei e ja to ansiosa pelo livro, p ler nas minhas viagens.
Um conto que consegue prender o leitor.
Sem palavras para descrever tamanho trabalho.
Um conto maravilhoso e de uma leitura magnífica que nos prende do início ao fim!!!! Sem dúvidas uma obra excelente e digna de aplausos!
Sucesso para esse escritor notável! Parabéns!!!
Espetacular, muito gostoso de ler, deixando um gostinho de quero mais! Parabéns e sucesso!
Excelente conto, de leitura mt agradável. Parabéns, Samuel.
Caro Samuel Freitas,
É com grande prazer que expresso minhas sinceras felicitações pelo notável conto intitulado “Dono de Casa”. Sua habilidade em tecer uma narrativa envolvente e cativante é verdadeiramente admirável. A forma como explorou os elementos da trama e desenvolveu personagens tão vívidos demonstra um domínio excepcional da arte da escrita.
Seu conto abordou temas que ressoaram profundamente comigo, e a maneira como os abordou revelou uma compreensão perspicaz da complexidade humana. Fiquei especialmente impressionado com sua capacidade de transmitir emoções de forma tão autêntica, fazendo com que os leitores se identificassem com os personagens e suas experiências.
Continue a compartilhar sua voz única e suas histórias inspiradoras com o mundo. Estou ansioso para, no futuro, ler a obra na sua integralidade, bem como para testemunhar seu crescimento contínuo como autor e exímio contador de estórias.
Mais uma vez, meus parabéns pelo excelente trabalho em o conto “Dono de Casa”. Que esta seja apenas uma das muitas conquistas literárias que estão por vir em sua carreira.
Abraço fraterno.
Maravilhosooooo
Parabéns pelo bela elaboração, excelente obra.👏👏
Parabéns Samuel! Deus te abençoe meu amigo!!
Parabéns meu amigo, acredito que não te faltas mais nada, já tens um filho, escreveste um livro e já plantou uma árvore, com certeza, orgulhoso!
Maravilhoso!
Grande Freitas, o melhor de todos os tempos…. Magnífico 😍❤️
Maravilhoso
Parabéns, Samuel!
Desejo-te muito sucesso.
Desde criança quando você desarrumava os livros na estante da minha casa, eu já percebia que ali estava um leitor. Ao passar dos anos veio os concursos escolares e a facilidade que sempre teve na escrita e na oralidade .Eu nunca tive dúvida do seu potencial! Sucesso…
Parabéns Samuel, todo sucesso do mundo! Adorei❤️
História fascinante com um texto leve, gostoso de ler, que prende o leitor.. Parabéns !
Parabéns meu amor Deus abençoe grandemente vc sempre gosto de ler e escrever e sua escrita impecável nuca tive dúvida do seu potencial.
Parabéns Samuel, todo sucesso do mundo! Adorei❤️
Ler este conto se prestou minha terapia de hoje. Parabéns Samuel Freitas.
Congratulações, dileto amigo. Comentar sobre a sua escrita é chover no molhado, sou fã. Muito feliz em ver sua publicação e muito ansioso pelo livro físico em minhas mãos. Esse texto está lindo e rico. Abraço fraterno. Orgulho de ti!
Que excelência! Parabéns por todo empenho no lançamento do seu futuro livro! Vai ser um prazer ler essa obra por completo em breve.
Meu amigo, que maravilha de conto! Emocionante! Me fez viajar e recordar de vários momentos de minha vida! Muitas camadas lindas e fortes nesse belíssimo conto. Grandes recortes do que realmente faz sentido nessa jornada que estamos vivenciando. Parabéns, Samuel Freitas!
Gostei da história, interessante, gostosa e de significado espetacular ✨✨
Muito bom !.
Não sou muito de lê, mais como se trata de alguém que conheço fiquei curiosa, e que interessante hein 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 todo o contexto e abordagem sensacional, Parabéns Samuel 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Que conto incrível! Acabei de ler aqui. O conto é de uma sensibilidade ao serem descritas as cenas que a gente consegue visualizar e até mesmo vivê-las. Coisas de um cotidiano familiar tão carregadas de significados que nos leva a profundas reflexões assim como o próprio pai, personagem da história. E a forma culta como foi escrito é esplêndida e enriquecida pelo uso de figuras de linguagem que aumentaram ainda mais a relevância do texto. Particularmente achei magnífico quando citou a referência de Babel. Amigo, só tenho a parabenizá-lo pelo excelente conto 👏👏👏👏👏