Deus tem privilegiados?

3, fev, 2022 | Artigos | 2 Comentários

 
Por Mateus Campos Felipe
 
Deus tem seus privilegiados? No dia 24 de janeiro desse ano, faleceu o professor Olavo de Carvalho. Para os seus alunos e admiradores, não partiu apenas um professor, mas também um pai.
 
Comigo não foi diferente. Estou ainda de luto e, em parte, não consigo acreditar que ele se foi. Parece que uma hora ele vai aparecer e dizer que foi tudo um grande mal entendido.
 
Pois no sétimo dia de seu falecimento estava ouvindo a pregação do Padre Paulo Ricardo sobre o Evangelho de Domingo, 30 de janeiro, que narra a visita de Jesus ao templo da cidade de Nazaré, sua terra natal, uma continuação ao Evangelho do Domingo anterior, proclamado um dia antes da morte do professor.
 
Jesus havia ido ao templo, como costumava fazer, e foi escolhido para a leitura da Sagrada Escritura, que recaiu em uma passagem do profeta Isaías segundo a qual Deus o havia ungido com Seu Espírito “para anunciar a Boa-nova aos pobres, para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
 
Então, Jesus afirmou que aquela passagem da Escritura, historicamente ocorrida com o profeta Isaías, tinha se consumado plenamente naquele dia em Sua Pessoa.
 
Prosseguiu dizendo que um profeta não é bem recebido em sua pátria e que outros, como Eliseu e Elias, foram enviados por Deus a povos estrangeiros para fazer curas e prodígios, porque não seriam bem recebidos em Israel.
Os nazarenos, então, revoltaram-se, e quiseram matar Jesus.
 
O padre Paulo Ricardo, comentando essa passagem, lida em duas partes, esclareceu que o motivo da revolta dos nazarenos era a inveja, porque, afinal, como Jesus, que era apenas um deles, filho do carpinteiro e de Maria, uma menina pobre, poderia ter sido escolhido por Deus para uma missão tão grandiosa? Tomados de inveja e de ódio por Jesus, os moradores de Nazaré resolveram matá-lo, para dar fim àquele problema.
 
O padre explicou, também, algo ainda mais importante: que Deus tem seus eleitos. Pode parecer estranho, principalmente numa época em que a igualdade é um valor máximo na sociedade, mas ele afirmou, categoricamente, que Deus de fato beneficia alguns mais do que outros. E por que Ele faz isso? Por amor, pois essas pessoas especialmente agraciadas são instrumentos de salvação para os irmãos, sem deixar, evidentemente, de amar a estes. Quando se trata de Deus, segundo ele, amor nunca falta, ainda que a dose possa ser maior para os seus escolhidos.
 
Então, os dons derramados a mais sobre uma pessoa farão com que ela, enriquecida, possa beneficiar inúmeras outras, razão pela qual não há motivos para inveja e ressentimento, e sim para admiração e louvor a Deus por suas obras e por nos fazer colaborar com elas.
 
E não foi justamente assim a vida do professor Olavo de Carvalho? Um homem “comum”, pobre e sem estudos formais, que passou pelas maiores dificuldades e reviravoltas na vida, tornou-se, de forma surpreendente, um assombroso instrumento de salvação e reerguimento para uma multidão de pessoas.
 
Não teria ele sido um eleito de Deus e recebido, portanto, dons especialíssimos, com os quais Nosso Senhor realizou uma obra de resgate em um país cuja vida espiritual, intelectual e humana estava sepultada?
 
Assim como narrado no Evangelho desses dois domingos, o professor foi escorraçado por aqueles mais próximos a ele – seus colegas de profissão, os jornalistas, e pelos estudiosos e acadêmicos, pessoas as quais deveriam, em teoria, viver em busca da verdade. Seus nazarenos, roídos de inveja pelo sucesso do seu concorrente “sem diploma”, fizeram de tudo para calar sua voz e até acabar com a sua vida.
 
O professor, sem se importar com isso tudo, “passou por meio deles” e foi enviado como taumaturgo a uma legião de estrangeiros – nós, brasileiros comuns que até conhecê-lo não fazíamos idéia do que era uma vida humana bem vivida, uma personalidade forte e estruturada e uma busca real pela verdade.
 
O próprio professor já havia confessado, mais de uma vez, o espanto com a obra de Deus feita por seu intermédio:
“Por que o Senhor me ensina essas coisas, logo a mim que sou um lixo, um bunda, um desclassificado? Não tenho a menor idéia, mas, já que Ele fez isso, pode também me arranjar um lugarzinho na arquibancada, de onde eu possa vê-Lo por toda a eternidade.”
 
Justamente quando foi chamado para a eternidade, o professor teve sua “hora” colocada por Deus “entre” essas passagens da Escritura.
 
Com a Providência não há coincidências.
 
Muito obrigado, professor. Seu trabalho aqui neste vale de lágrimas mal começou.

 

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Mateus Campos Felipe

Casado, pai de três filhos, servidor público e fotógrafo.