Vírus e Leviatã
Aldo Maria Valli demonstra como o risco de pandemia facilmente enfraqueceu o tecido democrático e provocou o surgimento de uma série de fenômenos sociais perigosos como o despotismo compartilhado, a intolerância às opiniões individuais, o uso da mídia como propaganda, a submissão política à comitês científicos, a imposição de regras supersticiosas, e novas formas de moralismo.
No verão de 2020, após o primeiro lockdown, quando a primeira grande emergência estava passando, o jornalista italiano Aldo Maria Valli sentiu a necessidade de uma reflexão séria sobre o que havia acontecido nos meses terríveis que abalaram a Itália. As conclusões não são reconfortantes.
Durante a crise do Covid-19, além do sofrimento, das mortes, da confusão econômica e social, assistimos à suspensão dos procedimentos constitucionais habituais. A Itália deixou de ser uma república parlamentarista e as funções de governo passaram a ser exercidas por decretos do Primeiro-Ministro, decretos estatais que assumiram um valor quase religioso, e nos quais a Saúde foi absolutizada.
Surgiu uma forma de “estatismo partilhado e despotismo terapêutico” que, embora passivamente aceite pela grande maioria dos cidadãos e, culposamente, também pela Igreja, tem gerado prevaricações que não podem e não devem ser esquecidas, pois “constituem um perigoso precedente e preocupante para todos aqueles que se preocupam com a qualidade da democracia liberal”.
A realidade italiana não foi diferente da brasileira e serve de alerta. Quem pode nos assegurar que o estado de emergência não será institucionalizado?
Aldo Maria Valli
Aldo Maria Valli é um jornalista italiano nascido em 1958. Graduado em Ciências Políticas pela Università Cattolica del Sacro Cuore, de Milão.
Trabalhou em diversos veículos de comunicação, com destaque para a revista Ares, o jornal Avvenire e a emissora de televisão RAI. Desde 1996 atua como vaticanista no telejornal TG3, em Roma. Acompanhou o papa João Paulo II em mais de 40 viagens internacionais.
Escreveu diversos livros sobre política, religião e jornalismo.
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