O que perde os grandes homens é a ambição
Saber o que o Burguês entende por um grande homem não é a coisa mais fácil deste mundo. Qualquer um pensaria que, a seus olhos, o maior dos homens haveria de ser o que tem mais dinheiro. Ora, isso é apenas uma opinião plausível. Mas a coisa não é bem assim.
Acima do homem que tem muito dinheiro, há aquele que faz medo, detentor do poder de tomar o dinheiro dos outros e de lhes dar, em troco, um pontapé no traseiro. Este é incontestavelmente um grande homem.
Contudo, existe um terceiro que é, ouso dizê-lo, maior ainda. Seguramente, é o maior dos homens. É ele quem vinga o Burguês dessa Verdade ofensiva de que falei antes. Um tal vitorioso, compreende-se, não tem necessidade de ser rico nem de espalhar o terror. Pouco importa que se chame Renan ou Voltaire. Mesmo que se trate apenas de um pedante malnascido, de um mísero e esfarrapado apóstata, já será o Cipião dessa Cartago de luz que se precisa destruir. A ambição do Burguês, se tivesse alguma, seria a de dividir a glória desse soldado imortal, de pesadas manoplas e que, junto ao grande Pontífice, nas manhãs de Sexta-feira Santa, esbofeteia o Cristo agrilhoado.
Mas que quer de nós este lugar-comum, com sua ambição desastrosa? É o que me pergunto. Se há algo que falta essencialmente ao Burguês, é a Grandeza, a qual ele aborrece. Ele não pode, portanto, perder-se por esse motivo, e o lugar-comum que ora nos empece foi decerto colocado em circulação por homens muito pequenos, que desejavam impô-lo.
Tradução: Alexandre Müller Ribeiro
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Detalhes do autor
Léon Bloy
León Bloy (1846-1917) foi um romancista e ensaísta francês, grande prosador, considerado um dos maiores polemistas do seu tempo.
Entre suas principais obras estão os romances Le Désespére (1887) e La Femme Pauvre (1897); além de dezenas de ensaios sobre temas culturais e religiosos.